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Com o fim do isolamento haverá leito de UTI para todos?

Unidades de Terapia Intensiva (UTI) podem lotar se casos graves dispararem no Brasil. Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

Se o país sofrer uma escalada de casos graves de Covid-19 em decorrência do fim da quarentena — previsto para 10 de abril —, pacientes podem enfrentar falta de leitos de terapia intensiva, conforme alerta a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).

Nos epicentros da pandemia, de acordo com a Amib, a demanda exige dos países 2,4 leitos de UTI para cada 10 mil habitantes. No entanto, o Brasil não alcança essa demanda, ainda que sejam somados os leitos da rede pública e privada.

Ao todo, o Brasil conta com 47 mil leitos, sendo que apenas 32 mil são equipados para atender adultos. Metade deles estão no Sistema Único de Saúde (SUS) e a outra nos hospitais particulares.

O Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe, em média, de 1 leito para cada 10 mil habitantes. Na rede privada, a razão é de 4 leitos para cada 10 mil beneficiários de plano de saúde.

A questão crítica, alerta a Amib, é que para 75% da população a única opção é o SUS. É preciso considerar, ainda, que a rede pública tem em média 95% destes leitos já ocupados por pacientes com outras doenças.

Apenas 10% dos municípios brasileiros tem leitos de UTI, levando à transferência contínua de pacientes para hospitais de referência nas capitais.

Outra preocupação das entidades médicas é que pacientes com o novo coronavírus permaneces na UTI cerca de 14 dias, por conta do isolamento.

Pela ameaça de sobrecarga ou disparada de contágio, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, prevê que o sistema de saúde entre em colapso em abril.

O que é um colapso? Você pode ter o dinheiro, o plano de saúde, mas simplesmente não há sistema para você entrar.

Luiz Henrique Mandetta

Para que os estados e municípios equipem seus hospitais com mais leitos de UTI, o Governo Federal liberou R$ 600 milhões. Apesar de tudo, fora pandemia, a rede pública do Brasil alcança a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), ou seja: 1 a 3 leitos a cada 10 mil habitantes.

Estado crítico

O Conselho Federal de Medicina (CFM) chegou a calcular a proporção por região, em estudo de 2018. O estudo aponta que no Sudeste apenas o Rio de Janeiro não tem leitos suficientes. No estado do Rio, a razão é de 0,97 leitos por 10 mil habitantes.

A situação mais crítica é no Norte do país, onde apenas o estado de Rondônia alcança a recomendação da OMS. O panorama é similar no Nordeste, região na qual apenas Pernambuco e Sergipe alcançam a razão de 1 leito de UTI a cada dez mil habitantes.

No Centro-Oeste, apenas Goiás alcança. O Sul tem a maior proporção de leitos por habitante. No entanto, ainda insuficiente para a demanda de 2,4 leitos registrada nos epicentros da doença.

O mapa a seguir mostra o total de leitos no SUS por estado, com base no estudo do Conselho Federal de Medicina:

Leitos disponíveis no SUS por Estado. Dados de 2018. Gráfico: Eduarda Hillebrandt

Ampliação de leitos

Com o avanço da pandemia — o Rio de Janeiro alcançou nove mortes e 421 casos confirmados nesta quinta-feira (26), quando o estado completou três semanas desde o primeiro caso — , municípios e estados incluíram no plano de contingência a instalação de novos leitos de UTI.

No início da pandemia, o governo estadual acelerou a abertura de 299 leitos, na Capital e em Volta Redonda. A Secretaria de Estado de Saúde pressiona, ainda, pela reabertura de 950 leitos desativados em hospitais federais.

Outra iniciativa para suprir a demanda parte dos municípios. Na Região Metropolitana, São Gonçalo está equipando leitos no Hospital Municipal Luiz Palmier para torná-lo unidade de referência no tratamento da Covid-19.

São Gonçalo também receberá um dos três hospitais de campanha previstos pelo governo estadual. A Prefeitura de Maricá, está acelerando a entrega do Hospital Municipal Che Guevara, com 19 leitos de UTI.

Niterói tomou um rumo diferente: na segunda semana de contágio, a cidade fechou parceria com hospitais privados para disponibilizar leitos de urgência. Em seguida, a cidade arrendou um hospital, que servirá como unidade hospitalar de campanha municipal com 140 leitos.

Se executados, os investimentos previstos devem representar aumento de 28% na capacidade de terapia intensiva no estado.

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